quinta-feira, 10 de novembro de 2016

acupuntura

Acupuntura


O que é

A acupuntura é um conjunto de práticas terapêuticas inspirado nas tradições médicas orientais. Criada há mais de dois milênios, a acupuntura é um dos tratamentos médicos mais antigos do mundo. Consiste na estimulação de locais anatômicos sobre ou na pele – os chamados pontos de acupuntura.
Diferentes abordagens para o diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças são realizadas, entretanto o procedimento mais adotado no mundo atualmente é a penetração da pele por agulhas
metálicas muito finas e sólidas, manipuladas manualmente ou por meio de estímulos elétricos.
De acordo com a tradição chinesa, a técnica é capaz de ajustar canais energéticos do corpo, chamados na acupuntura de meridianos, de acordo com equilíbrio de yin e yang. A medicina ocidental e moderna, contudo, sugere que o método estimule a liberação de substâncias químicas que alteram o sistema nervoso e podem ter efeitos em todo o corpo, promovendo o equilíbrio do organismo. Sendo assim, está muito associada a transtornos orgânicos resultantes de tensões emocionais como o estresse.
O diagnóstico é feito após o questionamento de diferentes aspectos da vida do paciente e a observação de manifestações físicas como a pulsação, a respiração, cor e aspecto da pele e da língua. Assim que o problema é identificado, o paciente pode ter alguns de seus mais de mil pontos de acupuntura estimulados em diversas e frequentes sessões.

Para que serve

A acupuntura busca a recuperação do organismo como um todo pela indução de processos regenerativos, normalização das funções alteradas, reforço do sistema imunológico e controle da dor.
Embora pesquisas tenham demonstrado que a acupuntura pode realmente desativar áreas do cérebro associadas a dores, não se sabe exatamente se o método constitui um mecanismo que sustenta ou contribui para o efeito terapêutico sobre uma pessoa.
De qualquer forma, a técnica sobrevive há milênios, mostrando benefícios a indivíduos com problemas gastrointestinais, respiratórios, musculares, urológicos, endocrinológicos, psicológicos e neurológicos, ginecológicos e até mesmo dermatológicos.
A acupuntura é especialmente indicada para a redução da dor em casos de fibromialgia e dores
localizadas nas costas, tratamento de náuseas e vômitos em pacientes que se submetem a quimioterapias ou cirurgias, e diminuição da tensão emocional.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a prática um complemento da medicina moderna. Nos Estados Unidos, foi recomendado apenas no ano passado pelo Instituto Nacional para a Saúde e Excelência Clínica (NICE) como opção de tratamento para dores nas costas pelo sistema público de saúde do país.
No Brasil, a acupuntura é reconhecida como especialidade médica conforme deliberação do Conselho Federal de Medicina e consta na Tabela do Sistema de Informações Ambulatoriais (SAI/SUS) do Ministério da Saúde.

Curiosidades

Experiências com ratos demonstraram que a acupuntura pode até triplicar os efeitos de um composto natural conhecido por suas funções antiinflamatórias e analgésicas.
Pesquisadores da Universidade de Rochester, nos EUA, observaram que tecidos próximos das agulhas tinham até 24 vezes mais adenosina, sugerindo que a imperceptível perfuração da pele possa acionar tanto o acúmulo da substância em tecidos mais externos da pele, como também a sinalização ao cérebro para criar endorfinas naturais contra a dor.
De acordo com a medicina chinesa, os meridianos energéticos que atravessam o corpo são afetados por energias “perversas”, que afetam o organismo de forma geral. Apesar de soar místico, a própria tradição ocidental considera que ventos, bactérias, vírus, lesões, traumas, ansiedades, frio ou calor constituam boa parte das energias “perversas”. A medicina moderna concorda.
Nem apenas de agulhas vive a acupuntura: a estimulação de pontos de acupuntura pode ser feita também pelos dedos (acupressão), com pedras quentes, laser e muitas outras técnicas. O importante, pregam os defensores da prática, é que os fluxos energéticos sejam retomados e a energia do corpo equilibrada.

Massagem

Dores no corpo e os pontos-gatilho

Acredita-se que 75% das dores no corpo são causadas pelos pontos-gatilho ( trigger point ), nós ou contraturas, como também podem ser chamados. A formação de pontos gatilhos ocorre quando o músculo se contrai e não retorna ao seu estado de relaxamento normal formando assim nódulos nos miofilamentos que produzem dor, diminuem a produtividade muscular e movimento das articulações. Os pontos-gatilho são pontos relativamente sensíveis e podem ser localizados no músculo através de toque. Pontos-gatilho não são pontos de acupressão, apesar de alguns dos pontos serem localizados no mesmo local. Pontos de acupressão são explicados pela medicina tradicional chinesa como pontos que trabalham os meridianos energéticos.
A formação dos pontos-gatilho está totalmente ligada à rotina estressante do dia-a-dia, falta de preparação física, movimentação inadequada, excesso de esforços repetitivos e utilização de alguns medicamentos. Dor de cabeça, no pescoço, na região lombar e limitação no movimento das articulações, podem ser causadas pelos pontos-gatilho ativos. Fortes dores causadas pelos pontos podem aparecer acompanhadas de sintomas como dor de ouvido, náuseas, tontura, arritmia, dor nos genitais, cólicas e outros. Através do tratamento adequado dos pontos-gatilho parte dos medicamentos consumidos livremente para diminuir esses sintomas poderiam ser consumidos com menor frequência.
Os pontos-gatilho não são simples de se tratar. Alguns livro citam a possibilidade de auto tratamento. Cada tipo de ponto necessita de tratamento adequado para desativação. O auto tratamento pode ser complicado pelos pontos serem divididos em fixos, centrais e satélites, exigindo assim um conhecimento mais amplo. Cada ponto deve ser localizado, reconhecido e tratado com manobras manuais, que são diferentes para cada caso. Um ponto gatilho tratado de maneira inadequada pode gerar mais dor e até mesmo ativação de outros pontos. O tratamento dos pontos-gatilho não exclui a necessidade de consultar um médico. Somente um médico poderá realizar um diagnostico concreto baseado em exames e testes.
Pontos-gatilho

Doença de Alzheimer: uma doença da família

    Atualmente, há no Brasil em torno de 1,5 milhão de pessoas diagnosticadas com a doença
    case HFSE familia adriane direitaAdriane, de blusa branca a direita, e famíliaHá três anos, o advogado Otávio Trierweile, 67, acordou ao lado da esposa, Ana Maria, com quem é casado há mais de 40 e não a reconheceu. Também não lembrava onde estava e quem eram seus três filhos, um deles, a psicóloga Adriane Trierweile. No início deste ano, foi diagnosticado pelo Serviço de Neurologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) com doença de Alzheimer, que afeta principalmente idosos acima de 80 anos (a prevalência nesta faixa etária é de 50%).
    “Começou com um esquecimento e foi piorando aos poucos. Foram dois anos de angústias sem saber realmente o que meu pai tinha. A confirmação veio após uma ressonância magnética no hospital, onde iniciou o tratamento. Saber realmente o que é nos tranquilizou até para entender a doença e adequar a forma como vamos lidar com ela e ao tipo de tratamento exigido”, destaca Adriane, ao relatar que a família teve de adaptar completamente para conseguirem as melhores comodidades para o pai, que “é um homem culto e entendia profundamente das leis”.
    “Mesmo sendo psicóloga não é fácil, pois mudou toda a rotina da casa. Ele muda rapidamente de humor, faz pirraça, má criação, não fala coisas conexas e anda com muita dificuldade. O mais difícil é para minha mãe. Mas ela cuida dele como se fosse uma criança” revela. Os problemas vividos pela família de Adriane são os mesmos passados pela família da ex-representante comercial, Eliane da Cruz, desde que há oito anos sua mãe, dona Maria Isabel Ferreira Cruz, 81 anos, foi diagnosticada com Mal de Alzheimer pelo Serviço de Neurologia do Hospital Federal Cardoso Fontes (HFCF).
    Desde então, vem realizando o tratamento na unidade, sendo acompanhada pelo médico neurologista Cassius Pierry Oliveira Martins. Eliane conta que a mãe trabalhou a vida inteira em serviços domésticos, mas agora não consegue mais fazer coisas simples, como se deslocar sem a ajuda de uma cadeira de rodas ou ir ao banheiro. “Às vezes ela passa um bom tempo mexendo com a colcha ou o lençol como se estivesse lavando roupa. Já causou uma explosão no fogão. Também tem muitos problemas para se lembrar de coisas que fez ou das pessoas, até das mais próximas”, conta.
    Os dramas passados pelas duas famílias atingem a cerca de 1,5 milhão de pessoas no Brasil, que também são diagnosticadas com o Alzheimer, uma doença degenerativa, que não tem cura. De acordo com o chefe de serviço de Neurologia do HFSE, Rogério Monteiro Naylor, “provavelmente, este número vai crescer, uma vez que a tendência da população idosa no país é de crescimento”.
    Além disso, conforme as faixas etárias vão aumentando acima dos 60 anos, também amplia a possibilidade do desenvolvimento da doença. Como explica Naylor, a doença foi descrita pela primeira vez em meados do século passado, pelo Alemão Aluysios Alzheimer e afeta a capacidade de gerir os atos da vida cotidiana, sejam os do trabalho ou os que envolvem as atividades domésticas, se caracterizando pelo declínio gradual, lento e progressivo da função intelectual.
    Sintomas e tratamento – Para o médico neurologista, o esquecimento não é o maior problema, mas as alterações que provoca na vida dos familiares. “O mais grave é a incapacidade de realização de atos habituais como se vestir e a higiene corporal. Há alterações no comportamento e no humor, que impactam o dia-a-dia da família. É uma doença da família e não da pessoa que, normalmente, fica alheia”, destaca Naylor, que atua há 10 anos com pacientes acometidos pela enfermidade e, neste período, já atendeu mais de 500 usuários com a doença no serviço de neurologia do HFSE.
    Por sua vez, o médico neurologista do Hospital Federal Cardoso Fontes (HFCF), Cassius Pierry Oliveira Martins, enfatiza que a doença possui três estágios: inicial, intermediária e avançada. “Em nenhuma delas é recomendável que a pessoa viva só ou cozinhe. Contudo, é importante não excluí-las de todas as atividades da casa, para que não se sintam inutilizados”. Para ele, é fundamental uma orientação médica aos cuidadores, para que conheçam mais sobre a doença e, desta forma, possam “amenizar os percalços que certamente irão acontecer”. “Fazer rodízio de cuidadores pode evitar o esgotamento físico e mental”, ensina.
    Entre os sintomas mais comuns estão: a troca de objetos de lugar, ficar repetitivo, esconder pertences, alterações da linguagem, com dificuldades de escolher palavras e reconhecer objetos, desorientação no tempo e no espaço, dificuldades em executar tarefas habituais. Outros sintomas também podem se manifestar como alterações na personalidade e do humor, como apatia, isolamento e depressão, além de alterações no comportamento, como suspeição, paranoia, delírios, raiva, inquietação, perambulação, confusão mental ao final da tarde, alucinações e alterações do sono.
    “Os sinais vão mudando com o avançar da doença, que, pode ser confundida com outras demências ou mal de Parkinson. É importante o diagnóstico para que o tratamento freie a doença. Existem testes clínicos de rastreio que seguem critérios diagnósticos aceitos mundialmente. Também devemos realizar exames laboratoriais no sangue e no liquor e de imagem, como ressonâncias magnéticas ou tomografias computadorizadas, afim de fazer diagnóstico de exclusão de outras demências”, explica Cassius Martins, ao observar que as formas de prevenção são aquelas já recomendadas para uma boa saúde, como manter um estilo de vida saudável com a prática de exercícios físicos e o consumo de alimentos naturais.
    Todos os testes e exames para o diagnóstico e emissão do laudo de medicamentos especiais, são oferecidos nos Hospitais Federais Cardoso Fontes (HFCF) e Servidores do Estado (HFSE). O tratamento, ofertado gratuitamente pela rede pública, se divide em específico para a demência, com remédios como donepezila, glantamina(er), rivastigmina e memantina(xr); e para controlar as intercorrências clínicas e psiquiátricas da enfermidade, como por exemplo, os distúrbios do sono, a agressividade e a agitação.
    Texto e fotos: Aluízio de Azevedo
    ASCOM/MS/RJ

    Pesquisa investiga relação entre pressão arterial e estresse

      pressão aterial"O estresse no trabalho representa importante fator de risco psicossocial associado à morbidade e mortalidade cardiovascular. A elevação da pressão arterial tem sido apontada como um possível mecanismo pelo qual o estresse no trabalho aumenta o risco cardiovascular. Mas existem grandes inconsistências na literatura a respeito dessa relação, determinadas, em grande parte, por questões metodológicas." A afirmação é da aluna do doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Leidjaira Juvanhol Lopes. Sua tese, desenvolvida sob orientação da pesquisadora Rosane Härter Griep, adotou diferentes estratégias analíticas que forneceram evidências de que a relação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial varia ao longo da distribuição de pressão arterial, sendo mais evidente entre os participantes com mais de 50 anos, e não sendo observadas diferenças segundo sexo. Ela explica: "O estresse no trabalho vai aumentar a pressão arterial dependendo dos níveis de pressão arterial do indivíduo, ou seja, de acordo com o valor da pressão arterial, o estresse no trabalho vai agir de forma mais ou menos acentuada".
      Segundo Leidjaira, esse achado tem importantes implicações, pois, como a quase totalidade dos estudos foca em partes específicas da distribuição de pressão arterial, as conclusões em relação a seus principais determinantes, dentre os quais o estresse no trabalho, são baseadas em efeitos sobre a média ou no extremo populacional, esse último representado pelos casos de hipertensão arterial. "Conclui-se, no estudo de problemas complexos de pesquisa, como o abordado nessa tese, que a combinação de diferentes estratégias analíticas pode contribuir de forma significativa para o preenchimento das lacunas existentes."
      A tese em foco é parte do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), investigação multicêntrica sobre as doenças cardiovasculares e o diabetes que acompanham servidores públicos, de ambos os sexos, entre 35-74 anos, de seis instituições de ensino superior e pesquisa do país: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nessa tese, foram utilizados dados da linha de base do Elsa-Brasil, referentes aos participantes não aposentados, para abordar a relação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial.
      Entre os dois artigos produzidos com base no estudo, o primeiro analisou a relação entre o estresse no trabalho e a distribuição de pressão arterial por meio de uma combinação de diferentes técnicas exploratórias. Adicionalmente, foram apresentados aspectos sobre a operacionalização das variáveis de estresse no trabalho e relacionadas à pressão arterial que influenciam no estudo de suas inter-relações. Conforme evidenciaram os resultados, a relação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial varia ao longo da distribuição de pressão arterial. A relação investigada foi mais evidente entre os participantes com mais de 50 anos, mas não foram observadas diferenças segundo sexo. Também foi verificado um incremento nas diferenças entre as médias pressóricas dos grupos de baixo e alto estresse no trabalho, após excluir das análises os participantes com maior probabilidade de erros de classificação nas variáveis de estudo.
      O segundo artigo, por sua vez, elucidou Leidjaira, teve o objetivo de analisar a associação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial usando análise de regressão quantílica, além de investigar se as dimensões de estresse no trabalho – demandas psicológicas, uso de habilidades e autonomia para decisão – associam-se de forma diferenciada com a pressão arterial. Segundo ela, os resultados indicaram que os participantes do Elsa-Fiocruz são os que apresentam os maiores níveis de uso de habilidades, que se referem às oportunidades para ser criativo, usar competências intelectuais e aprender coisas novas no trabalho, bem como possuírem os níveis mais altos de autonomia para tomar decisões sobre a forma de realizar o próprio trabalho. A respeito da relação dessas dimensões com a pressão arterial, acrescentou a aluna, foi identificado que somente a autonomia para decisão está associada à pressão arterial, sendo essa associação significativa apenas na parte central da distribuição de pressão arterial e entre os não usuários de medicamentos anti-hipertensivos. Também não foram observadas diferenças segundo sexo.
      Leidjaira Juvanhol Lopes é graduada em Enfermagem, com mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Ela colabora nas análises do banco de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) no Centro de Pesquisa do Rio de Janeiro.
      Informe Ensp

      Higienização das mãos pode evitar infecções hospitalares graves


        lavar as mãos - caimacanulNo início de abril, saiu na imprensa a notícia sobre o mutirão de cirurgias de cataratas realizado em um hospital de São Bernardo do Campo. Dos 27 pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico, 21 apresentaram quadro de infecção e parte dos infectados perderam a visão. O diagnóstico foi de infecção hospitalar, com a presença da bactéria do gênero Pseudomonas, que aumenta o risco de morte. Há estratégias de prevenção e controle de infecção baseadas em evidências para que eventos como esse não ocorram.
        Segundo a Coordenadora Estadual de Controle de Infecção Hospitalar da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, a médica Sibelle Buonora, “a questão das complicações envolvendo os mutirões de catarata é bastante preocupante. As complicações infecciosas envolvidas no procedimento quase sempre causam diminuição da qualidade da visão e/ou cegueira. Como todo procedimento cirúrgico, na cirurgia oftalmológica há necessidade da observância dos conceitos de cirurgia segura e da tomada de medidas de prevenção às infecções relacionadas à assistência à saúde”. Sibelle Buonora explica que tais medidas de prevenção às infecções devem ser implementadas envolvendo as diretrizes de identificação correta do paciente e do órgão a ser operado, lavagem de mãos antes e após o procedimento, uso de luvas adequadas ao procedimento proposto, observância às normas de esterilização de equipamentos cirúrgicos e emprego de antibióticos adequados quando indicado.
        Segundo o infectologista, Ícaro Boszczowski, coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), “a literatura médica revela que em fontes de surto de infecções oculares a contaminação de soluções (colírios) usadas de maneira compartilhada entre pacientes e falhas no processo de manutenção de assepsia e antissepsia são apontadas como os principais responsáveis pela maioria dos casos publicados”. De acordo com Boszczowski, a prevenção de infecção hospitalar é um grande desafio. O HAOC desenvolve diversas estratégias, principalmente relacionadas a procedimentos cirúrgicos, para evitar casos como esse ocorrido no mutirão de cataratas de São Bernardo do Campo. “A prevenção de infecções relacionadas a procedimentos cirúrgicos é bastante complexa e envolve desde protocolos de limpeza, desinfecção e esterilização de materiais até a observação contínua do cumprimento das técnicas de assepsia e antissepsia, uso de antibiótico profilático no momento adequado e cuidados no pós-operatório. Nós temos, portanto, indicadores de todas estas etapas sendo monitoradas continuamente. Ter rastreabilidade dos materiais usados em procedimentos cirúrgicos é extremamente importante, ou seja, saber exatamente qual material e/ou medicação foi usado em cada paciente com número de lote e data. Ao se perceber casos incomuns de infecção que aparecem de maneira agrupada, é possível identificar rapidamente se há algum material e/ou medicação envolvido e interromper o surgimento de novos casos”, afirmou.
        No caso do mutirão de cirurgias para cataratas, a infecção foi causada pela bactéria do gênero Pseudomonas, que é considerada uma bactéria resistente. Para combater a resistência microbiana, um problema de saúde de preocupação mundial, o hospital utiliza estratégias de vigilância constante de patógenos multidrogarresistentes (MDR). “A bactéria do gênero Pseudomonas é um patógeno frequente entre as infecções hospitalares e outras infecções relacionadas à assistência à saúde. Nem sempre essa bactéria apresenta-se de forma resistente aos antibióticos e a frequência com que isso acontece varia entre as instituições. O fato é que o número de infecções causadas por bactérias resistentes tem aumentado mundialmente. Este aumento deve-se, pelo menos em parte, ao uso indiscriminado de antibióticos e à disseminação da infecção entre pacientes por meio das mãos de profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde lançou, em 2015, um alerta para este problema de saúde pública, conclamando os profissionais de saúde para o uso racional de antibióticos e apontando a necessidade de programas consistentes de higienização das mãos. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, fazemos vigilância contínua e sistemática de patógenos multidrogarresistentes (MDR). Todos os pacientes admitidos no hospital e provenientes de outras instituições ou que tenham fatores de risco para portar uma bactéria MDR são mantidos em precauções de contato (uso de avental e luvas para seu atendimento) até que os testes para identificação destas bactérias sejam negativos. Da mesma forma, se, ao longo da internação, alguma bactéria MDR for identificada, o paciente é imediatamente colocado em precauções de contato e, em algumas situações, pacientes do mesmo andar ou da mesma unidade são investigados para o reconhecimento de eventual transmissão e implantação de medidas de bloqueio. Analisamos continuamente a incidência de infecções por bactérias MDR no hospital para podermos atuar precocemente em casos de elevação inesperada destes índices”, destacou Boszczowski.
        Entre as ações gerais de prevenção de infecção hospitalar, o infectologista destaca a higienização das mãos. “A estratégia de maior importância ainda é a higienização das mãos por parte dos profissionais de saúde sempre antes e após examinar o paciente ou prestar algum tipo de cuidado. Para que a adesão a esta medida simples seja universal, nós empreendemos no HAOC um esforço grande para manter um programa de educação continuada em higienização das mãos. A fim de garantir estrutura excelente para a higienização adequada, revisamos continuamente as pias, dispensadores de sabão e papel toalha, além dos dispensadores de álcool de todo o hospital. Estes pontos de higienização de mãos não devem estar a mais de cinco passos do leito do paciente. Em alguns períodos (sem aviso prévio), observamos a adesão à higienização das mãos por parte dos profissionais de saúde durante o atendimento ao paciente. Após estas auditorias, nós apresentamos os resultados para os profissionais da instituição e discutimos os números. Os dados são apresentados em proporção de oportunidades aproveitadas. Por exemplo, se um profissional teve dez oportunidades para higienizar suas mãos durante um atendimento e o fez em apenas oito, terá 80% de aproveitamento. A análise contínua destes dados de consumo e aproveitamento de oportunidades, aliada a atividades de reforço positivo desta prática, tem apresentado grande sucesso no aumento da adesão”, detalhou Boszczowski, ratificando que o apoio e o comprometimento da alta administração são aspectos fundamentais para o sucesso de qualquer campanha de higienização das mãos nos hospitais.
        Por fim, Sibelle Buonora comentou que, em termos de políticas públicas específicas para a cirurgia oftalmológica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está em fase de revisão do pacote de orientações para cirurgias oftalmológicas seguras, mas que, ainda assim, há documentos orientadores das medidas para a higienização das mãos e para a realização de cirurgias seguras universais que podem ser implementados em qualquer tipo de cirurgia.
        Isis Breves (Proqualis/Icict/Fiocruz)